Darmélia Barbosa*
A pandemia do novo coronavírus fechou portas, forçando muitas pessoas que se viram sem emprego ou nenhuma condição de prosseguir com o trabalho até então exercido, a encontrar alternativas para sobreviver. A necessidade acelerou tendências, como a expansão do universo digital, e impulsionou a criação ou retomada de ideias e projetos. Nesse contexto, vem emergindo ainda com maior representatividade o empreendedorismo feminino como forma de garantir o sustento do lar e criar perspectivas de maior prosperidade. No Brasil, vale lembrar, quase metade das famílias já é chefiada por mulheres, provedoras de renda mesmo nos casos em que vivem com um companheiro.
Essa projeção das mulheres também na linha de frente das empresas se revelava desde a crise econômica iniciada em 2014. Levantamento do Sebrae indica aumento sustentado de mulheres empreendedoras em estágio inicial de negócio (com até 3,5 anos de abertura) ao longo do tempo, chegando a 50% do total desse segmento em 2019. Esse avanço ganha vigor neste 2020 de impensáveis e rápidas mudanças em todos os setores.
O estudo Perfil da Empreendedora Goiana, feito pelo Sebrae em parceria com a Universidade Federal de Goiás (UFG) e divulgado no Dia Mundial do Empreendedorismo Feminino (19/11), mostra que 42% das empresas abertas no Estado são de mulheres. Porém, o mesmo estudo constata barreiras, ao confirmar que elas dedicam 18% menos tempo aos negócios do que a maioria dos homens, por causa da sobrecarga de afazeres domésticos e cuidados com os filhos. Aponta ainda que prevalecem negócios de menor remuneração, micro e pequenas empresas voltadas à prestação de serviços. Na área de tecnologia, por exemplo, predominam homens.
Outra grande dificuldade é no acesso ao crédito. Muitas empreendedoras se queixam de entraves burocráticos e exigências de garantias de que não dispõem para conseguir, no mercado financeiro, capital para investir ou ampliar o negócio.
Diante desse cenário, no qual o protagonismo feminino é fundamental para a sobrevivência familiar, com reflexos positivos no desenvolvimento econômico e social, o Governo de Goiás, via GoiásFomento criou o programa Mulher Empreendedora, lançado em março, mês do Dia Internacional da Mulher. O programa deveria durar três meses, mas devido à grande demanda se prolongou com sucesso até 31 de outubro e fez aumentar em 139% o volume de recursos liberados para empreendedoras: nesse período, foram R$ 27,84 milhões para empresas com mulheres na administração, ante R$ 11,67 milhões em igual período de 2019, ou seja, mais que o dobro. Hoje, esse público representa 46,6% dos clientes da agência estadual.
Dizem que empreender não é para qualquer um, porque exige acreditar no que se faz, implicando em compromissos e responsabilidades, mais ainda quando são gerados empregos, o que significa que uma empresa assegura renda e dignidade para uma rede de pessoas e seus dependentes. No rico repertório da sabedoria popular, também se costuma afirmar que é nos desafios que se manifesta a capacidade de superação das pessoas. Há ainda a constatação de que estamos numa era que exige talento e flexibilidade para inovar e colaborar para transformações, rumo a modelos sustentáveis de produção.
Tudo somado, temos um perfil bastante favorável à inserção feminina nos negócios. Afinal, exercer funções de poder e comando com criatividade, maleabilidade e dedicação ao cuidado consigo e os demais, também é coisa de mulher.
Darmélia Barbosa é gerente de Comunicação da GoiásFomento
Artigo publicado originalmente no jornal Diário da Manhã, em 4 de dezembro de 2020